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Mensagem por Ville M. Hättönen Qui Out 18, 2012 8:24 pm

Os raios de sol invadiam timidamente o corredor escuro através das frestas criadas pelo tempo entre as esverdeadas pedras que compunham as paredes daquela isolada parte do castelo, como se fossem intrusos em meio a um mundo de escuridão. No chão eram visíveis fungos, sujeiras e alguns anelídeos fugindo daquela perturbação quente e radiante que tentava atingi-los dia após dia, preferindo o frio e a umidade que só espaços como aquele poderiam prover. Até a água verde que inundava o chão parecia estranhamente fugir das áreas atingidas por aquela indesejável luz, como se cada parte daquele lugar possuísse vida e o recente buraco na parede tivesse estragado todo o ambiente ideal que o local proporcionava para estes, pois odiavam intrusos - com raras exceções - como aquele rapaz que diariamente vinha compartilhando daquela escuridão solitária, sendo muito bem recebido por todos, como se fosse de casa. Naquele momento, porém, algo o incomodava.

Vestido com sua usual capa negra rodeada de detalhes verdes e dourados, assim como uma cobra no brasão em seu peito, representatividade de sua casa, Ville andava de um lado para o outro com um papel na mão, parecendo não acreditar no que lia. Suas botas de cano alto agora tomavam um tom esverdeado de lodo devido à água que espirrava por todo canto a cada passo apressado que dava, espalhando a sujeira do local pelos pés e pernas do garoto. Seu rosto estava vermelho e suado, semelhante à de um praieiro em pleno litoral brasileiro no verão, por mais que a frieza e a umidade do lugar e da situação indicassem somente o contrário. Nos seus cabelos compridos e oleosos, uma aparência de preocupação tornava-se evidente à medida que cada fio perdia a capacidade de manter-se no lugar que deveria – e a tentativa de um rabo de cavalo só fez a aparência do rapaz tornar-se mais estranha do que já era. Algo naquela carta recebida mais cedo o havia perturbado profundamente.

Naquele dia tudo estivera caminhando muito bem. Logo cedo acordara e antes de tomar café para conseguir aguentar suas primeiras aulas do dia, Ville foi encontrar-se com alguns de seus novos clientes em pontos escondidos e estratégicos do castelo, aqueles que uma pessoa dificilmente frequentaria se não fosse solicitado, e usando a capa negra de sua família, para não ser reconhecido, o garoto entregara as informações solicitadas pelos mesmos - nenhuma palavra trocada - nunca - somente pergaminhos e mais pergaminhos eram passados. Pergaminhos estes cujas informações não foram nem um pouco difíceis de serem conseguidas, para sua infelicidade. Nada o irritava mais do que trabalhos idiotas demais ou perseguição de uma namorada ciumenta. Porém, aquele era o seu ganha-pão e ele tentava não reclamar quando recebia pedidos deste tipo, que naquela escola não eram poucos.

Logo após ter recebido seu pagamento pelo trabalho e pensado no que poderia comprar com ele, tarefa esta que até o momento havia sido a mais difícil do dia, por ter que decidir racionalmente qual seria a maior prioridade entre os tantos produtos que vez ou outra alguém do mercado alternativo, fonte de seus contatos e informações, lhe ofereciam em troca de novas informações sobre casos obscuros que ainda o assolavam ou pela garantia de que eles o ajudariam em um futuro próximo caso fosse necessário. Difícil decisão devido ao fato de que existiam pessoas âncora que ele precisava se preocupar em bajular de vez em quando, mas devido o tipo de trabalho que o garoto estava exercendo no local, o dinheiro adquirido não era muito – principalmente porque recentemente havia descoberto que o sonserino não era o único que atuava naquela região – ou seja, o mercado já estava dividido e os melhores clientes haviam sido fidelizados por aquela pessoa, que coincidentemente ele já havia trabalhado várias vezes junto com o objetivo de conseguir informações deste lado do mundo que pra ele fora difícil outrora. Outros tempos, pois agora já não era nada difícil, mas logicamente ele deveria ter imaginado que uma escola como Hogwarts já mantivesse alguém deste meio por dentro de suas paredes. Ville era só mais um, e precisava de trabalhos solo para se manter.

Seu trabalho mais pesado, devido a isto, vinha sendo recrutar novos clientes de aula em aula espalhando boatos de um cara que descobria tudo que você precisasse saber sobre qualquer coisa que fosse difícil e confuso demais pra um bruxo normal, ou até arriscado, por assim dizer. Poucos eram os interessados, em sua maioria eram garotas querendo saber mais sobre algum garoto, ou vice-e-versa. Raros foram os casos que não envolviam relações amorosas tradicionais, mas para estes foram necessários somente alguns exemplares de livros, jornais antigos e uma coruja pra um ou dois pra que fosse solucionado, nada muito empolgante. O que mais ocupava o tempo do garoto ainda eram as aulas e as inúmeras tarefas que os professores passavam – em Durmstrung aquilo seria extremamente raro, mas Hogwarts tinha essa mania de fazer os alunos escreverem tudo sobre algo que alguém já escreveu em algum livro.

Por causa disso, Ville era um frequentador de aula assíduo – e apesar de sua aparência estranha que afastava a todos de primeira, o rapaz tentava ser simpático com os outros alunos sempre que podia para conseguir divulgar seu trabalho nas entrelinhas de suas conversas informais, como se aquilo fosse segredo e uma grande novidade – o que facilmente virava fofoca. Fazer isso, no entanto, era complicado. Principalmente porque a maioria dos estudantes já o repelia com olhares reprovativos só de perceber o garoto adentrando a sala de aula – e para o rapaz aquilo era como chama-lo de sangue-ruim dez vezes e ainda imitar um ogro dançando na sua frente – mas por amor ao seu trabalho ele relevava, pois percebeu que toda vez que reagia, não somente a pessoa, mas todos ao redor faziam o máximo para não chegar perto dele pelos próximos três dias – e aquilo era ruim para o marketing, e consequentemente para o seu bolso. E segundo porque não era qualquer idiota que era digno de espelhar tal novidade, era preciso saber bem pra quem contar pra que aquilo não o entregasse pra pessoas mais inteligentes, além de que pessoas inteligentes demais poderiam perceber a sua estratégia caso ele não tomasse cuidado com elas.

O seu trabalho desde o início do ano letivo, porém, parecia começar a dar resultados – já existiam clientes que ele nunca havia sequer visto procurando por seus trabalhos. As terceiranistas e quartanistas eram as campeãs desta categoria. Contudo, nada animador poderia sair daquelas cabeças ocas e corpos cheios de hormônios. De forma que os assuntos das aulas conseguiam ser mais animadores do que qualquer atividade extracurricular exercida nas últimas semanas. Por isso a biblioteca e a educação que havia perdido no ano anterior tornaram-se quase prioridades, se não fosse a necessidade de pegar muitos trabalhos pro ganha-pão diário – mas estes ele fazia no intervalo das classes sem muito esforço.

A carta que o garoto segurava em sua mão naquele momento, porém, fez o garoto temer que aquele jogo arriscado que havia criado pudesse ter sido descoberto por alguém, e pior – que este alguém fosse o seu colega de mercado dentro de Hogwarts, ou algum dos seus clientes, que acabava dando no mesmo. O trabalho que os dois mantiveram juntos era muito bom, mas ele não podia arriscar arruinar tudo desse jeito. Nada pior que outro investigador saber a identidade de outro – toda a credibilidade se perde quando estes casos acontecem, fora o mundo de chantagens e a falta de privacidade que isso pode gerar para a continuidade do negócio. Raros eram os casos em que a pessoa tratava descobertas dessas como uma informação descartável.

O mundo de investigação e todos os envolvidos funcionavam como uma fraternidade secreta. Um protegia ao outro, sem cogitação ou arrependimentos – como um pacto de sangue, sem sangue - e nenhuma de suas fontes de informação poderia ser revelada em hipótese alguma para quem quer que fosse, até outro investigador, pois cada um possuía suas próprias pessoas de confiança, e isto era feito até para protegê-las também. Uma pessoa que oferece informações gera muita visibilidade para si mesma, e esse é um negócio arriscado demais para espalhar informações para qualquer um que viesse lhe pedir. Por isso, quando um investigador é descoberto, muito provavelmente toda a sua rede de contatos acaba caindo junto com ele. E se para uma pessoa com um segredo é difícil manter a segurança de onde surgiu a informação, imagine várias. Para os fornecedores, fazer aquilo era como viver com um medo constante de ser descoberto – e para um investigador conseguir a confiança de um, era porque fez muito bem por onde. Deixar-se ser descoberto era como se entrega-los para um dementador.

Não somente, ir àquele lugar escondido na torre leste era uma atividade comum para o garoto quando este precisava pensar na vida que havia deixado para trás, mas que ainda o assolava em seus sonhos. Naquele momento, porém, sem perceber havia expandido o lugar para um santuário de reflexão sobre seus problemas pessoais – se é que aquilo poderia ser chamado daquela forma de tanta podridão que exalava. Podridão esta que se remetia ao passado que queria esconder ao invés de enfrentar, mas que por algum motivo algo o dizia que aquilo não permaneceria escondido por muito tempo, e ele não tinha poderes para não deixar aquilo ser revelado, principalmente pelas circunstâncias que foram colocadas.

- Agora quem? Quem pode ser?

Era uma questão de tempo para que sua vida se tornasse um livro aberto com todo seu passado obscuro, as histórias de seus pais, de sua família, e até mesmo os acontecimentos em Durmstrung estariam na mão de uma pessoa que Ville não sabia quem era. Naquele momento, parando para pensar em todo o seu passado e em todos os trabalhos que havia feito, percebera que de início provavelmente deixara rastros o suficiente para que alguém ligasse alguns de seus trabalhos com ele. Em Durmstrung alguns de seus amigos sabiam o que ele fazia e ainda o auxiliavam de vez em quando com coisa ou outra – mas não eram pessoas confiáveis o suficiente. Ele precisava agir antes que alguém agisse – haviam cartas escondidas na manga para isso. Seus amigos eram pessoas que assim como ele um dia deixaram a escola, mas seguiram diferentes caminhos – e conhecendo-as, não seria difícil encontra-las e fazer o que deveria ser feito. Aquela era sua vantagem.

Se quem quer que fosse, entretanto, soubesse onde procurar, esta pessoa poderia entender bastantes coisas ainda assim – a não ser que Ville pagasse mais, porém suas condições financeiras ainda não eram favoráveis. Além disso, o estrago já poderia ter sido feito e aquela carta poderia ser somente um aviso, de alguma forma, da descoberta de alguém de fatos que o entregassem de alguma forma. Algo bastante improvável de ser verdade, mas fazendo o que faz, o garoto sabia que nada era impossível de acontecer. Por isso, trabalhar em seus pontos soltos era algo para ser feito essencialmente o quanto antes.

Três pequenos ratos observavam o garoto andar de um lado pro outro, hora na escuridão, hora atingindo a luz vinda da parede de pedra, como se hipnotizados pela concentração do rapaz em seus pensamentos. De repente, porém, este parou, como se num surto de entendimento apalpou os bolsos e então tirou um pedaço grande de pergaminho e uma pena de dentro de suas vestes. Observou-as por alguns instantes, como se entendesse o motivo delas estarem ali, e então as colocou de volta onde estavam. Tirou de seu outro bolso sua varinha, como se aquilo lhe desse segurança, deu meia volta e saiu andando calmamente com certa confiança no rosto como se fosse não mais o mesmo garoto apreensivo de 10 minutos atrás. Seus olhos não muito grandes, com pálpebras que mal se abriam, mostravam um rapaz que estava constantemente em outro mundo. Sua aparência relaxada e seus cabelos presos davam a ele uma graça ainda mais estranha de ser apreciada. Só aqueles que realmente tivessem coragem de olhar em seus olhos o entenderiam com clareza.

Andava por corredores e mais corredores, e a cada momento encontrava rostos conhecidos e desconhecidos, todos aproveitando seus tempos livres entre as aulas rindo em pequenos grupos ou andando apressados com vários livros na mão. Ville cumprimentava a todos que via, não com sorrisos, mas com olhares de respeito, e estes o eram devolvidos, não se sabia se por reciprocidade ou por educação. Seu rosto calmo escondia sua respiração acelerada e os dedos que esfregavam o cabo da varinha presente em sua mão de forma inconsciente. Seus passos, que começaram calmos, iam aos poucos ganhando velocidade enquanto andava, aumentando ainda mais o estrago que suas botas sujas e molhadas faziam nos corredores.

Corredor após corredor, escadas após escadas, o trajeto do garoto finalmente terminou quando este chegou ao corujal, onde logo tratou de procurar um lugar escondido, quieto e sem sujeira de coruja para pegar seu pergaminho e sua pena, escrever duas cartas curtas e objetivas em sua língua natal, lançar um feitiço para que seu conteúdo não se revelasse caso fosse interceptada por alguém diferente dos seus respectivos remetentes, e então escolher duas corujas praticamente iguais para em cada uma colocar uma de suas cartas.

Após a partida das corujas, o garoto pareceu mais calmo. O destino destas não era nada mais do que as únicas pessoas que poderiam entregar sua verdadeira identidade por trás do codinome Sphinx. Se ele tivesse sorte, ninguém os havia contatado antes e ele poderia fazer o seu jogo com quem quer que fosse atrás de suas informações. Assim que ele tivesse certeza que estava seguro, o próximo passo seria passar as informações corretas para despistar o seu mais novo e peculiar cliente e colega de trabalho: Phoenix.


Spoiler:


Última edição por Ville M. Hättönen em Qui Out 18, 2012 8:31 pm, editado 2 vez(es) (Motivo da edição : Colocar o resumo do Post)
Ville M. Hättönen
Ville M. Hättönen
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Finlândia
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