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Mensagem por Piers Ainsworth Dom Set 30, 2012 9:15 pm

Status: RP Fechada
Data: 03 de Setembro – depois do almoço
Local: Margens do Lago, um pouco depois das 14h.
Participantes: Piers Ainsworth e Ùna Fairbairn.

.14
"You want a revelation
Some kind of resolution"


Anteriormente...

Dizer que o jovem Ainsworth não sabia para onde estava caminhando quase torto, quase se manter o passo e, ao mesmo tempo, olhar por onde ia fosse trabalho demais para seu cérebro coordenar era uma inverdade. Não porque, realmente, não conseguia quase enxergar nada e não conseguia quase pensar em nada, mas simplesmente porque seus pés seguiam instintivamente para algo que gritava familiaridade, algo que parecia casa. E se tudo naquele castelo de repente parecia auspicioso e fora de ordem, se todas as paredes pareciam apertar-se contra ele e sufocá-lo, era perto do lago que ele se lembrava de casa. Não era salgado e não tinha as ruidosas ondas de Tintagel, mas era perto da água e era pedra e ele se lembrava de casa, e conseguia respirar. Ao menos isso, ao menos conseguia respirar.

Porque não conseguia mais nada.

Sequer sabia que horas eram, não conseguia contar o tempo que tinha levado para ela sair do seu lado no almoço, ir conversar com a irmãzinha perto dos primeiroanistas, para logo depois Ángel Del Aguirre ocupar o posto ao seu lado deixado por ela e olhar para o loiro como se tivesse algo urgente a dizer, alo que ia doer. Não tinha doido, tinha simplesmente destruído todo o seu sistema nervoso, era diferente. Era diferente e ele não tinha conseguido contar o tempo em que ficou parado e piscando, só ouvindo e deixando as novas informações assentarem dentro dele. Não se lembrava nem de ter respondido algo muito mais coerente do que
"Eu tenho que ir..." para o colega sonserino, só se lembrava de ter se levantado, milagrosamente sem tropeçar nos próprios pés, e olhado para ela enquanto falava com Sorcha, só olhado - até que não conseguisse mais respirar e sentisse a necessidade de ir embora, andar até se afastar, até respirar de novo.

Mas não era mais fácil pensar agora do que tinha sido no exato momento que Ángel del Aguirre, movido por uma empatia masculina e por um coleguismo recém-descoberto entre eles, começara a lhe contar que Ùna Fairbairn, sua guardiã, a garota que conhecia desde que não conhecia ninguém, sua viúva-negra, não era tão sua assim. Ah, não. Segundo Del Aguirre, ela estava comprometida com alguém (alguém, só isso... nenhum rosto ou nome para que pudesse descontar seu ódio, nada) desde antes de Hogwarts. Comprometida, e nem o cérebro mentiroso dele era capaz de se enganar tanto a ponto de criar outro sentido pra isso, não. Comprometida porque assim que se formasse, ia se casar com... alguém.

E ela nunca tinha dito nada.

De repente, tudo o que tinha acontecido no verão passava a ter novo sentido e explicação, de repente entendia exatamente o que ela tinha feito e o porque, o que ele não entendia era como ela não tivera uns dois ou três segundos para simplesmente parar e dizer que, "hey, desculpa, vossa senhoria, mas eu vou me casar no final do ano letivo, então, faça um favor e tire os dedos de cima e os olhos também. E me veja uma boa geladeira de presente." Nada. Só silêncio, como se ela tivesse desejado brincar com ele todo esse tempo, só enganar, só fazê-lo acreditar que e-- não. Não era verdade. Essa não era Ùna. Era só a raiva dele falando mais alto que a razão, sufocando a verdadeira voz dela.

A idiota devia ter se sentindo a mais estoica das mulheres na face da terra, isso sim.


- Claro que sim... - ele suspirou na manga da própria roupa, tirando a mão da frente do rosto antes de torcê-lo em uma expressão ridícula e modular a voz -"I carry the duty that cannot be forsworn," ou "Sinto muito, vou cumprir meu dever e sofrer calada enquanto isso porque você não serve de ajuda nenhuma mesmo." Urgh! Mas por que tem que ser tão... tão??

E nem se importou se agora mesmo estava perdendo uma aula (poções? Tinha se esquecido de tudo, até de seus horários). Nada importava, a não ser o fato de que ela tinha o tinha deixado de lado como um empecilho, que sequer podia confiar nele o suficiente para contar algo que carregava por mais que sete anos, que ela não o considerasse o suficiente nem para desiludi-lo antes que ele ficasse estragado por inteiro.

E agora já era tarde demais.

Nem sequer o seu escudo, nem mesmo seu orgulho, não podia vesti-lo como um manto e fingir que estava tudo bem, nada ia ficar bem novamente, nada.

(Talvez, só talvez, isso não fosse verdade. Talvez fosse Ángel que, por algum motivo desconhecido, só quisesse lhe causar um enfarto, talvez ela tivesse outra explicação. Confiava mais nela do que confiava nele... Certo? Não sabia. Não sabia de mais nada. Só quis sumir, nem isso conseguiu. Só olhava para as águas do lago, imaginando como seria fácil desovar pedaço por pedaço de um homem ainda sem rosto nas ondas de Tintagel.)

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Piers Ainsworth
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Mensagem por Ùna Fairbairn Seg Out 01, 2012 1:45 am

.15

No light, no light
In your bright blue eyes
I never knew daylight
Could be so violent


Anteriormente...

Era óbvio que algo de errado havia acontecido – ela apenas tinha de descobrir o quê.

O primeiro sinal viera durante o almoço. No intuito de compensar a desfeita do café da manhã, refeição que passara inteira junto de Piers e Bran para ouvir o que eles tinham a contar a respeito dos últimos eventos no dormitório masculino, Ùna abandonara seu costumeiro posto ao lado do marquês para passar boa parte do tempo entre os primeiranistas, acompanhando sua irmãzinha – e ignorando solenemente o fato de que as outras crianças não pareciam exatamente confortáveis com a presença dela. Quando voltou ao seu lugar, contudo, não encontrou o loiro com quem dividia a maior parte do tempo; no lugar dele, um prato abandonado ainda com restos de comida e, ao lado, um Del Aguirre que nada fez além de dar de ombros, como se não fizesse ideia do que havia acontecido – e como ele não era exatamente um amigo próximo do jovem Ainsworth, ou talvez por que ainda estivesse afetada demais pela conversa das primeiras horas da manhã, ela simplesmente acreditou no hispânico.

Foi assim que ela partiu para a aula de Poções contando que Piers talvez já tivesse se adiantado, baseado na suposição de que as irmãs Fairbairn poderiam perder a noção do tempo por estarem juntas. As expectativas da sonserina, porém, mostraram-se erradas tão logo ela colocou os pés em sala, não encontrando sinal de seu protegido. Mas como não podia simplesmente dar meia volta e abandonar a classe, buscou para si um lugar junto a uma das janelas, por vezes dando uma olhada para fora, por mais inútil que isso fosse em um castelo daquele tamanho, cercado de um terreno imenso.

Não fazia o menor sentido. Desde o primeiro ano, o marquês não havia matado uma aula sequer – exceto, claro, por motivo de doença, mas isso não configurava uma fuga intencional. Havia algo de errado, sem dúvida, e ela precisava descobrir, mesmo que o simples fato de pensar no assunto fizesse com que um mau pressentimento se enrodilhasse como uma serpente acomodada em seu estômago, estendendo-se para apertar sua garganta.

(Havia alguns raros momentos em que Ùna não era particularmente afeita ao sangue e ao legado dos Fairbairn correndo em suas veias. Esse era um deles.)

Acabou aproveitando o breve intervalo da aula para escapar pelos corredores. A princípio, levou Nancy em seu ombro, mas logo pediu à tarântula que procurasse por Piers no interior do castelo, enquanto ela mesma faria a busca do lado de fora; não tinham tempo a perder.

E foi assim que, intercalando passos mais apressados e corrida, passou pela praça do saguão de entrada, seguiu direto pelo círculo de pedra e subiu a ponte coberta, de onde esperava ter uma vista geral dos arredores. Ao olhar na direção do lago, teve a impressão de ver um vulto distante que, de alguma forma, se parecia com ele – ou talvez tivesse desejado ver, mas não importava mais. A impressão foi o bastante para enviá-la para lá às pressas, correndo para alcançá-lo mesmo que o fôlego lhe faltasse, o aperto na garganta cada vez mais forte, asfixiando.

Desacelerou apenas quando, ainda de longe, teve certeza de que se tratava de Piers; por mais que quisesse falar logo com ele, tratou de percorrer os últimos metros com mais prudência, silenciosa, testando o caminho e recuperando o ritmo da respiração – e se fosse honesta consigo mesmo, admitiria que a forma como ele parecia quase hipnotizado pelas águas apenas fazia piorar a sensação de mau agouro que não a abandonava.

– Você nunca foi de matar aulas. – Foi tudo que ela disse para anunciar sua presença, esforçando-se para manter o tom neutro costumeiro. Não conseguiu mais sustentá-lo, porém, quando o rapaz se voltou na direção dela, sério e grave. Havia algo de errado e, por mais que já começasse até mesmo a sentir enjoo diante daquela situação, ela tinha de saber o que era.– O que aconteceu com você?


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Mensagem por Piers Ainsworth Seg Out 01, 2012 1:52 am

.15
You are the silence in between
What I thought and what I said


Anteriormente...

- Você nunca foi de matar aulas. - aquela voz o puxou com braços de ferro do redemoinho de pensamentos no qual estava perdido. Não a tinha ouvido se aproximar e tudo o que conseguiu foi erguer os olhos azuis (densos, tão densos) para ela.

" 'Você nunca foi de matar aulas' - e você nunca foi de mentir."

Nunca.

Apesar de tudo, ela sempre tinha sido honesta. Era honesta quando falava com ele não fingia nenhuma dessas frescuras e subterfúgios que tinha visto nas garotas ao longo de todos os seus estudos, era honesta ao não poupar palavras para enumerar os defeitos dele, tinha sido honesta ao espalmar as mãos e se afastar.

Nunca.

Exceto que ela não tinha lhe contado a coisa mais importante de todas. E não devia ser para poupar seus frágeis sentimentos, tinha certeza disso. O que ela realmente pensava dele, depois de todos esses anos? Que era tão estúpido, tão imprestável que ela sequer podia contar algo dessa magnitude? Ou que não valia a pena explicar todas aquelas atitudes passadas, nada, porque ele não era importante? O quê?

Respirava e tentava pensar, imagens dançando aleatoriamente em sua mente, imagens dos dois juntos - ele sem rosto, ela ao lado - substituindo todos os momentos que Alistair tivera com ela. Quando a tinha ensinado a nadar, porque Hogwarts tinha um lago e ele nunca a deixaria perto da água se não soubesse nadar. Quando tinham aprendido a dançar, juntos, porque tinham o mesmo tamanho e a mesma idade. Quando...


- O que aconteceu com você? - como uma gota na barragem, a pergunta derrubou o dique construído com tanto esforço, liberando o rio, varrendo tudo no caminho dele. A pergunta dela soltou todo seu silêncio em ondas, os olhos azuis queimando como uma tempestade elétrica, o cenho franzido, a boca torcida em um meio sorriso estranho.

- O que aconteceu comigo? - ele não gritou, apesar de tudo, apenas cuspiu com dificuldade as palavras através de dentes cerrados, sentindo o gosto da própria saliva amarga - O que aconteceu comigo? Me diz você, Ùna! Mas, opa, espera! - e, então, ele avançava para ela num bote certeiro, célere como uma verdadeira cobra que tinha esperado o seu momento, uma mão apertando o ombro dela, a outra puxando sem dó o cordão que ela carregava, exibindo o ofensivo anel para o sol, pesando em sua mão como uma tonelada - Você não tem dito muito ultimamente, tem? Me conta você, o que aconteceu comigo, o que aconteceu com a gente.

Piers falava perto do rosto dela, a mão agarrando o anel como se quisesse escondê-lo ou transformá-lo em pó, a outra aferrada a um ombro sem, contudo, machucar. Não se afastou, ficou paraindo sobre a Fairbairn como uma sombra enorme, algo do qual ela já não podia mais fugir porque ele não ia deixar.

- Me fala, Ùna, porque, olha só, eu não sou adivinho.

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Mensagem por Ùna Fairbairn Seg Out 01, 2012 2:46 am

.16

You want a revelation
You want to get right
But it’s a conversation
I just can’t have tonight


Anteriormente...

Uma fração de segundo antes que ele a alcançasse, ela soube. Apenas uma fração de segundo depois de adivinhar a intenção da mão que voava em direção ao seu pescoço, precisa; uma fração de segundo apenas, o que não lhe dava vantagem alguma. Nenhuma chance de fugir dele até que o assunto acabasse sepultado pelo silêncio, como já haviam feito com outros problemas e situações desconfortáveis – ainda que ela tivesse certeza de que a questão em pauta não morreria senão quando seu estimado noivo estivesse sete palmos abaixo da terra.

Ùna, que não era de fraquejar, não pôde evitar se encolher e dar um passo para trás, antes que ele a travasse no lugar com um aperto de ferro em seu ombro, agarrando o maldito anel que ela carregava no pescoço. Era quase como ser duas pessoas ao mesmo tempo: de um lado, a moça esguia e pálida que se assustava diante do homem que se assomava, ameaçador, encarando-o com uma expressão machucada, os olhos sem realmente vê-lo. Do outro, aquela que costumava ser muito senhora de si e que, se tinha alguma ferida no momento, era apenas a que ia no orgulho, justamente por perder o controle daquela forma. Porque ela, ao contrário da criatura patética e frágil que desaparecia à sombra do marquês, sabia exatamente como responder a cada pergunta dele.

Ele queria saber o que havia acontecido com eles. Ora, a resposta era óbvia: ele era um Ainsworth, ela era uma Fairbairn. Haviam se esquecido disso na infância, era bem verdade, mas o Duque e sua bela esposa haviam sido muito diligentes em mostrar a uma menina de 11 anos de idade qual era seu lugar ao despachá-la para Hogwarts com a missão de proteger o filho deles. O objetivo primário dela no castelo jamais foram os estudos; eles não haviam chegado ali como colegas; ela sequer podia dizer ser uma empregada, porque não estava recebendo nada para estar lá – e se estivesse, faria questão de jogar cada galeão de volta àquela gente, porque definitivamente não precisava do dinheiro deles.

É claro que, para a menina de 11 anos, tudo que importava era não ser separada de seu melhor amigo. Mas ela não tardou a entender o recado: vivia presa. Presa ao maldito compromisso firmado séculos antes, presa à ideia de que, mesmo tendo há muito terras próprias e riquezas que em nada deviam aos duques da Cornualha, os Fairbairn ainda eram os vassalos, os cães fiéis que lambiam as botas daqueles que estenderam a mão para eles. Presa àquele grilhão infernal que carregava no pescoço desde antes de ser despachada para Hogwarts – o outro compromisso que a definia, e sobre o qual não havia contado ao marquês primeiro porque, do alto da inocência que ainda tinha à época, acreditava que ele talvez a rejeitasse caso soubesse que havia algo de tão adulto já traçado em sua vida. E depois já não importava mais.

Ele não era o senhor dela, por mais que sua família insistisse em pajear os Ainsworth. Se Ùna Fairbairn tinha de ter um senhor, que ele fosse seu próprio orgulho, que a fizera resistir àqueles anos todos sem baixar a cabeça, sem demonstrar fraqueza mesmo enquanto via sua amizade ruir e seu destino ser selado sem que ela pudesse dizer palavra. Seu orgulho a manteria de pé para dizer que cumprira com a sua missão de proteger o marquês, e então se livrar de uma vez por todas da sombra daquela gente.

Seu orgulho, o mesmo que a ajudara a conquistar de volta o controle, queimando e ardendo como se aquela serpente em seu ventre tivesse se desfeito em chamas.

Ela não era propriedade dele.

– Se o que você quer é uma confirmação do que eu suponho que Del Aguirre já tenha dito – começou ela, impassível, o rosto refeito em uma máscara de ferro –, sim, eu estou noiva. Há anos. O que não vai fazer a menor diferença na sua vida, vai? Não é você quem provavelmente já tem um casamento arranjado para logo depois da formatura, marquês? A não ser que você espere que eu continue vigiando seus passos e depois os dos seus filhos, não vejo que mal pode haver nisso. Não pra você.

Se não havia conseguido colocar um ponto final naquele desvario do verão, que o fizesse agora. Estava farta daquilo.

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Mensagem por Piers Ainsworth Seg Out 01, 2012 3:20 am


Era pior do que dor física, cada palavra como uma aranha rastejando debaixo de sua pele, entrando por suas narinas, seus olhos. Se sentia enjoado, a bílis subindo pela garganta, a mão espremendo a tira de ouro como se fosse tudo o que ele pudesse fazer para não segurá-la pelo ombro e chacoalhar até que parasse, até que ficasse quieta e parasse. Mas não. Claro que não! Ela tinha que continuar!

Ela tinha entendido tudo errado, tudo! Ou será que tinha sido ele? A essas alturas, já não sabia mais. A essas alturas, só conseguia engolir enquanto a víbora e não Ùna, falava com ele. A Víbora, aquela estranha criatura que gostava de molestá-lo e que tinha surgido desde o verão, a criatura que tinha desfeito tudo, estragado tudo, e que agora parecia cimentar o cadáver de algo que tinha nascido quase morto. A Víbora, que revolvia seu estômago e só não o matava porque ele era teimoso, tenaz e orgulhoso demais.

Mas não era com a Víbora que ele queria conversar - era com ela.

E se depois as duas pensassem a mesma coisa, que se danasse, ao menos ele iria ouvir dela e não de qualquer espírito que parecia tomar o corpo dela, não de algo venenoso como aquela ali. Não.

Se era para ter tudo enterrado de uma vez, ela que fosse a primeira a pegar a pá.


- Diferença? - dessa vez ele gritava, o nariz quase tocando o dela, os olhos azuis tentando queimar até encontrar a garotinha de 11 anos, até achar a garota do meio do verão - Você é idiota, bateu a cabeça ou o quê? É claro que faz diferença! Toda a diferença do mundo! E não me venha com essa conversa ridícula de criar meus filhos e trocar minhas fraldas geriátricas, você está louca? Não! Não responde!

Ele respirava a golfadas, as maçãs do rosto vermelhas, tomando o resto de sua sanidade para não esmagá-la com a outra mão. Deus do céu! Será que ela não entendia? Não tinha sido o bastante para entender? Ou será que ela achava que o segundo filho era tão inferior que precisava ser pajeado e cuidado até na velhice - mas vá, podia perder uma meia hora com ele antes de se lembrar que tinha alguma coisa melhor esperando por ela?

Maldita fosse! Malditos todos eles - os pais dela, os pais dele, todos. Maldito o primeiro da sua família que resolveu tomar o ducado, todo e qualquer um que tivesse colaborado para aquele caminho tão íngreme e solene quanto uma carroça despencando do desfiladeiro. Maldita ela e ele, e os dois - e Del Aguirre, só porque precisava ser justo.


- Você não entende, não é? Por que você acha que eu me importo tanto em afastar um provável mas ainda inexistente noivado? Porque quero morrer solteiro com você trocando minhas fraldas e me dando remédio? Que disparate é esse, Ùna? Você não é tão idiota assim, não! Não pode ser! - então ele a soltou, como se tocá-la queimasse seus dedos, como se o anel tivesse um veneno que penetrasse em seus poros.

Enfiou as mãos nos cabelos, já em total desalinho, só porque precisava mexer em alguma coisa, só porque, do contrário, ia acabar ficando louco. Podia rir, se sentia à beira da histeria o suficiente para isso, mas o desespero que já batia em seus cotovelos era maior do que qualquer coisa.

E que se ferrasse seu orgulho, ela acabava de pisar nele como uma manada de búfalos, já não tinha mais o que perder.


- Não, é claro que não! A Megera não acha que eu mereço uma explicação, não é isso? Está tudo bem me deixar plantado sem entender coisa nenhuma porque você de repente se lembrou, é isso? Ah, Ùna, vá se danar! Isso é tudo ridículo e você acha que eu não percebo? - logo as mãos se voltavam pra ela, segurando-a pelos braços, passando longe do ornamento maldito - Pelo amor de Deus! Você realmente pensa que eu vou aceitar me casar e ter filhos e colocar você e os seus remelentinhos pra ficar cuidando dos meus, é isso que você acha de mim, de verdade? Depois de todos esses anos? Depois... ah, que se dane, depois de me beijar no verão e sair correndo pra ir pegar um copo d'água? Me fala, porque, se for, a gente para isso agora antes de eu te ofender com os meus sentimentos ridículos de um marquês. E dá próxima vez te lembro de trazer um copo pra mim também.

E como se, com essa onda, todo o rio se esvaziasse, tudo o que ele fez foi encostar-se a ela, a cabeça pesada demais para ser sustentada, de repente encontrando um ombro onde pudesse descansar a fronte. Se ela quisesse, podia matá-lo de cinquenta maneiras diferentes, de todo jeito.

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Mensagem por Ùna Fairbairn Seg Out 01, 2012 5:42 pm

.17

You are the silence in between
What I thought and what I said
You are the nighttime fear
You are the morning when it's clear
When it's over, you're the start
You're my head and you're my heart


Anteriormente...

Não se reconhecia mais. No muito, o que restara ali à beira do lago era um reflexo pálido de Ùna Fairbairn, projetado por um espelho quebrado, cada estilhaço da superfície polida exibindo um fragmento de imagem diferente, impossível de encaixar com os outros.

Se ouviu cada palavra dele, cada grito, sem reagir, era porque simplesmente não tinha ação, dividida que estava pelo torvelinho de sentimentos conflitantes e desconexos que girava em seu peito e sua mente. Queria chorar; queria gritar de volta, a voz ainda mais imperiosa que a dele, porque nada que ela tivesse feito dava a ele o direito de se fazer de vítima daquela forma – não sem antes ver o que ela também tinha passado, mas ah, isso já seria esperar demais do caprichoso filho dos Ainsworth que não sabia ouvir um não como resposta. Queria se encolher e se desculpar, qualquer coisa que o fizesse parar de esbravejar, que o fizesse rir de novo com ela como havia feito apenas algumas horas antes. Queria voltar no tempo e não interromper aquele beijo, ou então jamais ter cedido a ele; jamais ter aceitado aquela dança, jamais ter ido com ele para Hogwarts. E queria, acima de tudo, a cabeça de Del Aguirre em uma bandeja de prata, o cão traidor.

Queria muito mais do que era sequer capaz de entender ou processar, mas não fez nada. Apenas ouviu, inerte, os olhos muito abertos como se precisassem absorver a imagem dele – mas a verdade era que o simples ato de piscar colocaria a perder o mínimo de dignidade que lhes restava.

Foi quando ele desabou sobre ela, a testa caindo como uma cruz no ombro da garota. Era pesado, e não só porque em algum momento tinha subitamente se tornado um monte de músculos muito maior do que ela; o marquês fazia descer sobre ela o peso da culpa, da dor e de tantas outras coisas que existiam entre os dois. Era difícil precisar quando as coisas começaram a sair do eixo, quando tudo começou a se perder, mas Ùna por um momento sentiu falta do menino franzino de cabelo de tigela que chegara com ela em Hogwarts. Era muito menos complicado tomar conta dele e protegê-lo.

Sem ação, ela apenas permitiu que ele continuasse ali, dando a si mesma o direito a um instante que fosse de silêncio. E então, em um gesto que era metade mecânico, metade uma tentativa desesperada de se ocupar com qualquer coisa e ao menos dar a ele um sinal de que ainda estava viva, ela ergueu uma das mãos até os fios loiros em desalinho, tentando dar alguma ordem a eles em um toque gentil.

– Se eu me lembro bem, foi você quem me beijou. – Foi o que ela finalmente conseguiu dizer, em uma voz quase soprada no cabelo dele. Não chegava a ser uma acusação, mas ela tampouco daria o braço a torcer. Ainda assim, apressou-se em acrescentar: – E eu correspondi, sei disso.

O simples ato de falar já era uma tarefa excruciante, que a forçava a levar a mão livre ao rosto e apertar a ponte do nariz, como se isso pudesse ao menos aliviar a pressão que sentia nos olhos.

– Mas eu não me lembro de, em momento algum, você também ter me dito qualquer coisa sobre... – Pegou-o pelos ombros com firmeza, mas sem fazer força, afastando-o levemente de si. Era quase instintiva a forma como tratava de mantê-lo de pé, firme, simplesmente porque era essa a tarefa que lhe cabia desempenhar e, apesar de tudo em que isso implicava, ela não conseguia deixar suas obrigações de lado. – Hm, sobre os seus sentimentos ridículos de marquês ou algo que o valha.

Não o encarou enquanto falava, a voz suave e quase isenta. Mantinha olhos e mãos ocupados com a tarefa de ajeitar o paletó e o nó da gravata de Piers, tortos desde que ele se exaltara daquela forma. E ninguém podia culpá-la por evitar erguer o rosto enquanto tinha a visão embotada. Mas terminado o serviço, respirou fundo e enfrentou o olhar dele, os dedos ainda se demorando mais um pouco ao espanar uma poeira inexistente da gola.

– E infelizmente eu também não sou adivinha, sou?

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Mensagem por Piers Ainsworth Seg Out 01, 2012 11:14 pm


Desde que era muito pequeno quando nem entendia direito a mecânica do mundo, Piers estava acostumado a ter o que queria. Não era porque fazia manha, não era porque se embirrava e protestava até ganhar o que queria, nada disso. Era porque as pessoas achavam difícil demais desapontar um anjinho loiro de enormes olhos azuis e um sorriso branco de dentes tortos. Parecia algo cruel negar algo a ele ou desiludi-lo, mas isso não significava que tinha crescido uma pessoa mimada ou arrogante, não.

Até porque existia Ùna Muireall Fairbairn em sua vida para dar todas as desilusões e tapas que as outras pessoas tanto evitavam.

Ela conseguia fazer com que doesse mesmo que tudo o que estivesse fazendo fosse falar baixo e deixar que ele se recostasse, dedos passando em seu cabelo, dando uma ordem a um ninho de ratos. Conseguia fazer com que pesasse e latejasse ajeitando sua gravata, evitando olhar para ele. E só ela acertava uma faca com aqueles olhos claro quando decidia pousá-los em seu rosto.

O que, realmente, ela pensava sobre ele? Pela atual perspectiva, parecia que ele era um daqueles nobres gordos (nem muito nobre ele era, certamente andar entre cocô de pombos e demais aves não era tão dignificante como parecia soar) com um monóculo que gostavam de bolinar. suas empregadas, as pobres coitadas. Era isso, então? Onde é que tinha errado tanto a ponto de torcer o caminho deles tão drasticamente? Ela nem sequer era uma empregada, estava muito além dessas coisas, a família dela era uma parceira da sua família, de igual importância e renome e seus pais a levavam em tão alta conta que tinha pedido a ela para cuidar dele (o inútil, sempre).

Ridículo.

Porque tudo isso era ridículo demais. Era ridículo que ela estivesse noiva (onde diabos os Fairbairn estavam com a cabeça?), era ridículo demais que ela não entendesse porcaria nenhuma depois de tantos anos juntos, era tudo absolutamente ridículo. E ele, parado, as mãos dela alisando algo invisível na gola de sua roupa, era o mais ridículo de todos, não sabia sequer o que fazer.

Nada, a Víbora tinha ido embora mais rápido do que o previsto, e agora que tinha Ùna à sua frente, tudo o que sentia era... dor. Porque doía, uma sensação de algo apertando e comprimindo até quase sufocá-lo; era provavelmente o duelo entre seu ego e a vontade de cuspir tudo aos pés dela, de segurá-la pelas mãos e contar numa torrente de palavras sem fim. Mas seu orgulho, pisoteado e esmagado no chão, ainda era o único a sustentá-lo pelos calcanhares e era o único a sussurrar em seu ouvido de que não, isso só a faria achá-lo mais imberbe e inútil do que já achava.

E ela estava perfeita, nenhum fio de cabelo fora do lugar. O uniforme da escola, feito de bom material e com suas exatas medidas, alinhado com préstimo em seu corpo, combinando com as costumeiras calças. O cabelo em um coque firme, um grampo do lado como um sinal muito feminino de que sim, ela se preocupava com essas coisas e até mesmo as sobrancelhas, espessas se comparadas às das outras garotas, parecia estar arrumada. Tudo. Absolutamente diferente dele, que tinha até a ponta das orelhas gritando em carmim e escarlate, um tributo indevido à Grifinória, dourado e vermelho, porque ele era um grande covarde.


- Me surpreende que você não seja. - ele respondeu com um rasgo de canto que era triste demais e sofrido demais para ser um sorriso - Você sempre sabe tudo, mesmo que esteja tudo errado. Tudo. Antes de mais nada, será que ao menos você não pensou em contar nem sequer por consideração? Foram anos demais, Ùna, anos demais juntos e- do que eu tô falando? É claro que você não ia contar. Nós somos dois idiotas, é claro que você não ia contar e eu não ia saber, não até receber um convite de casamento, huh? Tudo errado, tudo. - e meneava a cabeça, o tom de voz baixo e meio rouco, como se falar fosse difícil, como se a voz demorasse uma eternidade para sair de sua garganta.

Qual era a forma mais simples de explicar a ela?


- Você correspondeu, e depois saiu correndo com uma desculpa que só seria mais ridícula se trocasse água por suco de abóbora, não me deu nem sequer um ou dois segundos para falar nada. E depois fingiu que nada tinha acontecido. E você queria que eu fizesse o quê? Nós somos da Cornualha, você e eu, nós fomos ensinados a pairar acima dessas frivolidades. Idiotice pura, não é? É.- suas mãos voltavam a procurar por ela, pelos ombros largos demais para uma garota, mas ainda estreitos demais para ele -E eu sei que eu devia ter insistido mais, eu te conheço o suficiente pra saber disso. Eu sei.- respirou, suspirou, piscou os olhos e voltou a encará-la muito sério - Agora, pelo amor de Deus, Ùna, não ficou claro que eu gosto de você desde quando eu ainda nem tinha aprendido a cortar o cabelo? E não, nada de amizade, não. Gostar, no sentido bíblico, com todas aquelas frescuras das cabras subindo as montanhas e a égua atrelada no carro do faraó. É. Se você quiser, recito tudo de novo, mas acho que a gente pode dispensar isso, huh?

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Mensagem por Ùna Fairbairn Ter Out 02, 2012 12:46 am

.18

'Cause it's so easy
To say it to a crowd
But it's so hard, my love
To say it to you out loud


Anteriormente...

Àquela altura, depois de tudo que já haviam discutido e jogado um contra o outro, de todo o conflito que carregava dentro de si, e ainda somando os últimos minutos às primeiras horas da manhã e aos acontecimentos da véspera, era surpreendente que Ùna conseguisse se manter tão senhora de si, malgrado a seriedade que lhe era característica. Era, portanto, absolutamente compreensível que ela mesma decidisse fazer vista grossa ao espasmo que lhe torcia o canto dos lábios de leve, ao mesmo tempo em que contraía suas sobrancelhas – uma mescla minimalista de máscara da tragédia e da comédia, porque fora gratas exceções, não era dada a expressões expansivas demais.

Caso fosse obrigada a avaliar o que estava fazendo, contudo, arriscaria dizer que sorria – ou ao menos tentava. Com alguma carga de sofrimento imposta pelo cenho franzido.

E não se pode dizer que ela não absorveu cada palavra dele com o máximo de atenção que podia, toda a concentração que conseguia angariar diante da forma machucada como ele a encarava, que mais parecia rasgá-la por dentro. Chegou, inclusive, a pesar cada uma delas, da idiotice dos dois até o fato de que agora sim a posição dele estava clara, porque antes ela só podia supor e, mesmo que conhecesse o rapaz à sua frente melhor que a si mesma, não ousaria apostar em uma questão crucial como aquela. Tinha as respostas na ponta da língua para cada comentário, sobre suas razões para não ter contado do casamento ou sobre como a falta de insistência dele provavelmente tinha colaborado para que ela mantivesse um mínimo de sanidade mental até aquele ponto – o que não adiantava de nada, visto que o confronto surgira de uma forma ou de outra.

O problema era que, de uma hora para a outra, tudo desapareceu de sua mente, deixando para trás apenas a sensação vaga das mãos dele em seus ombros e piadas com éguas e ovelhas.

E ela riu, porque nem por milagre seria capaz de continuar se contendo quando nada mais havia além do Cântico dos Cânticos.

– É, podemos dispensar sim... – Foi o que finalmente conseguiu dizer, o rosto ainda torto em uma expressão que era um riso, mas tinha qualquer coisa a mais, olhos marejados meio pelo que tinham passado, meio pela pobre égua. Com a ponta dos dedos, secou uma lágrima que ameaçava correr pela bochecha esquerda, e então aproveitou para pousar a mão sobre aquela que apertava seu ombro.

Foi quando uma sombra passou por seus olhos, subitamente estreitos como se ela ponderasse a respeito de algo enquanto encarava o jovem marquês.

– Sabe? Eu nunca cogitei a possibilidade de revogar o compromisso do noivado. Você conhece a minha família, eles não teriam feito algo assim, tão planejado, por nada. Certamente isso tem seu valor, e não é pouco. Mas... – A melodia da risada, que ainda tingia sua voz, explodiu mais uma vez, ainda que só por um instante. Considerando o que restava de suas faculdades mentais, era bem um milagre que ainda fosse capaz de articular sentenças minimamente coerentes. – Há muito eu penso na possibilidade de me livrar do Sr. Meu Noivo tão logo surja a oportunidade. Providenciar que ele encontre o Destino nas pedras de Tintagel. Só não tinha certeza se valeria a pena... Até agora.

De alguma forma torpe, aquilo talvez fosse uma declaração de amor.

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Mensagem por Piers Ainsworth Ter Out 02, 2012 3:02 pm


O riso dela era um daqueles sons tão raros que você só se lembrava de como soava quando voltava a ouvi-lo. Não costumava ser assim, ele costumava ser muito mais habilidoso em fazê-la rir quando eram mais jovens. Num espaço menor do que vinte e quatro horas, porém, tinha ouvido duas vezes - o que significava que realmente O Cântico dos Cânticos funcionava, ainda que não com sua função originária. Era bom ouvi-la rir, era um novo golpe, muito mais eficaz do que os outros, em seus nervos que já não eram mais do que um emaranhado de fios que não se conectavam entre si. Bem, depois de tudo, era esperar demais que ele se encontrasse em seu juízo perfeito.

(Devia decorar trechos litúrgicos mais vezes, obviamente havia mesmo algo de milagroso neles. Talvez devesse se iniciar em Judith ou Esther ou mesmo os Salmos e Números. Números tinha um grande potencial.)

Mas, conforme ela falava, ele sentia a nova onda correndo por suas veias, algo morno que relaxava seus membros e distorcia seu cenho, algo que fazia bem embora golpeasse com maior perícia do que qualquer palavra dura dela. Ela era realmente habilidosa quando queria, não era? Acabou abrindo um sorriso enorme, retorcendo o rosto em algo que era quase louco mas tinha certeza de que ela entendia que ele não tinha realmente muito domínio sobre seu estado físico em um momento como aquele.

Ela às vezes era tão dura, tão distinta que ele se esquecia que, dos dois, ela era a mais frágil. Era forte, indiscutivelmente forte, podia dobrá-lo ao meio bem como a qualquer outro aluno metido a engraçadinho naquela escola, mas ela era mais frágil do que ele. Percebia de novo todas essas nuances com a mão dela que pousava sobre a sua e com a outra que secava algo no rosto que ambos fingiram que não tinha acontecido. E ele era o mais fraco dos dois, e foi por isso que ele acabou abraçando-a, puxando a garota para tão perto que enterrava o nariz no cabelo escuro e bem preso.

Ficou por alguns instantes só sentindo, só esperando que ela aceitasse e que se acostumasse, só respirando. Talvez precisasse mais disso do que ela, tinha tentado se suster sozinho por tanto tempo que era difícil demais se manter de pé sem nenhum apoio se ela se desfazia daquele jeito bem à sua frente.


- Agora você tem uma cabeça a mais para pensar em como se livrar disso, com eficiência e préstimo, huh? - ele falava com o nariz ainda enterrado no alto da cabeça dela, a voz macia demais para quem começava a propor aquele tipo de coisa. Mas o que podia fazer? Se tinha tudo o que queria bem ali, só lhe restava sumir com os obstáculos finais e agora podia pensar com calma como fazer isso -Tsc, a gente perdeu anos de planejamento por culpa dessa sua teimosia, mas acho que dá pra criar algo, a necessidade é a mãe de todos os planos mesmo. Você sabe mais o que sobre isso? Alguma ideia de quem seja? Qualquer coisa?

Porque não importava quem fosse, não importava realmente, ele iria lidar com aquilo. Eles, aliás. A sua família e os Fairbairn tinham dado conta do priminho distante da Lizzie, como é que ele e a Viúva-Negra - título que logo se tornaria realmente adequado - não iam conseguir lidar com um mequetrefe desconhecido (ainda) qualquer? Não, o tal sujeito iria logo aprender a nadar com os peixes de Tintagel, disso não lhe cabia dúvida alguma.

- Por sorte você é uma pessoa muito obtusa e, como você mesma já disse, eu sempre consigo o que eu quero. Acho que isso simplifica as coisas a nosso favor.

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Mensagem por Ùna Fairbairn Qua Out 03, 2012 1:53 am

.19

Be my friend
Hold me
Wrap me up
Unfold me
I am small
And needy
Warm me up
And breathe me


Anteriormente...

Entre as pequenas coisas que compunham Ùna Fairbairn – a garota de carne e osso, não a imagem de Viúva-Negra que vestia como uma armadura a maior parte do tempo –, a teimosia era sem dúvida uma das mais notáveis. Da persistência mais nobre à pura e simples cabeça dura, era difícil demover a jovem sonserina de qualquer objetivo que assumisse, ou mesmo forçá-la a mover um dedo que fosse contra aquilo que decidisse. A resistência já era algo instintivo, mais forte do que sua própria vontade – e apenas por isso ela teve de ser literalmente puxada pelo marquês, demorando ainda um segundo ou dois para abraçá-lo de volta.

Mal deu atenção às bobagens que ele dizia – porque qualquer coisa além daquele abraço e a aliança que ele implicava não passava de uma grande bobagem. apenas acomodou a cabeça no ombro dele, enlaçando-o com os braços. Só então notou que sequer se lembrava da última vez em que haviam se abraçado. Certamente Piers ainda era um pouco menor, menos largo. Não, ela definitivamente não se sentia tão pequena perto dele, junto a ele; desde quando, afinal, ele tinha estrutura e condições de oferecer amparo a ela?

(A pergunta certa, na verdade, era quanto tempo eles passaram distantes o bastante para que ela não percebesse tudo isso. Quanto tempo, quantos anos eles tinham perdido?)

Abafou uma risada breve contra o pescoço do loiro quando ele a chamou de obtusa, mas se permitiu não dizer nada por mais alguns instantes. Queria aproveitar ao máximo aquele momento, já manchado por uma sombra de melancolia; estava marcado para acabar em breve e era difícil precisar quando poderia se repetir.

Afinal, se pretendiam matar alguém após a formatura, tinham que manter todas as pontas amarradas desde já.

– Ei. – Chamou baixo, deslizando as duas mãos para o peito dele, o gesto sendo um reflexo doloroso do que ocorrera no verão, durante uma das festas dos Ainsworth. Ao empurrá-lo de leve, esforçou-se para fazê-lo com o máximo de cuidado possível, tentando conjurar no olhar uma doçura que lhe era quase estrangeira. Compostura, meu caro marquês. – Lembrou a ele em um tom algo farsesco, um sorriso que era quase uma ameaça de riso em seu rosto. Respirou fundo, então, olhando ao redor; localizou um banco um pouco mais afastado, de costas para a ponte coberta. – Vem. Melhor sentar um pouco.

Caminhar até o banco em questão sem estender a mão para ele, quase mesmo sem olhá-lo, beirou o impossível. Ainda assim, fez o trajeto mantendo a exata distância que costumava manter ao andar com seu protegido por qualquer parte do castelo, e depois sentou-se com a mesma postura firme e reta que exibia a todo momento. Apenas se permitiu escorregar um pouco mais para junto dele, ombro junto a ombro, de forma que pudesse trazer a pesada mão do marquês para seu colo, abrigada entre as suas, sem chamar atenção.

– Eu infelizmente não sei de muito mais dessa história que você. – Finalmente começou a dizer, o olhar ainda pousado sobre os dedos entrelaçados. – Pouco antes de virmos para Hogwarts, eu recebi esse colar com essa aliança, e a informação de que tinha um noivo prometido. Na época, achei até graça, monstrinho devorador de contos de fadas que eu era... E se não contei a você, foi... Por medo de você achar que era besteira de menina. Ou me excluir de alguma forma por eu já ter algo tão adulto assim na vida, e eu não ia suportar isso, não justo quando estávamos prestes a depender só um do outro aqui. E depois, vendo que seus pais pareciam a par do assunto, supus que você também estivesse e nunca tivesse tido interesse em perguntar. Pronto. Ridículo, mas aí está, confessei. Melhor agora? – Fitou Piers de esguelha por um instante, como se para deixar claro que, se não estivesse melhor, ele que ficasse calado, mas logo voltou sua atenção para as mãos unidas outra vez. – De lá para cá, tudo que aconteceu foi o meu enxoval ser montado. E antes que você pergunte, não, não há iniciais ou monogramas bordados nos lençóis e toalhas. Agora, considerando que minha avó já estava passando por modelos de vestido no fim das férias... Acredito que pretendam mesmo me casar logo depois da formatura.

Suspirou, cansada só de relembrar tudo que já havia passado por remoer esse problema. Ainda assim, buscou forças para encarar o rapaz ao seu lado, espremendo a mão dele sem sequer perceber.

– E se vamos mesmo em frente com esse... plano, não podemos dar na vista. Não se não quisermos levantar suspeitas de qualquer tipo. Sem contar que... – O ar lhe escapou num esboço de riso, uma sobrancelha muito negra erguida. – Bem, eu sei que Sorcha adoraria nos ver juntos, mas o que é que podemos fazer? Se ela souber, como é que explico para a minha irmãzinha que ela não precisa se preocupar com aquela história de noivado, porque eu pretendo ver o crânio do meu futuro marido estourado contra as rochas de Tintagel logo depois da noite de núpcias?


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Mensagem por Piers Ainsworth Qua Out 03, 2012 2:28 pm


Cabia certo em seus braços. Não era tão pequena, mas estava tudo bem porque ele era mais alto e ela era esguia, era ainda macia e cheirava bem. Fazia tempo que os dois não se abraçavam assim, não se aproximavam tanto nem sequer quando dançavam e, talvez, a última vez que estiveram tão próximos tinha sido no primeiro ano, logo depois do banquete de abertura quando os dois finalmente puderam comemorar que estavam na mesma casa. Mas isso não importava agora.

Importou sentir as mãos dela em seu peito, empurrando com cuidado. Era parecido com a última vez e, por isso, ele não pôde evitar a pontada de dor em seu estômago, entretanto, havia algo no olhar dela, algo triste e doce, como se ela estivesse se recordando da mesma coisa. Ele soltou o ar dos pulmões quando ela se afastou, alguma parte birrenta e mimada dele que não queria que fosse assim, mas entendia que ela tinha razão.

Afinal, se planejavam mesmo sumir com um noivo futuro de cujus, ele sabia que o mais sensato seria manter as aparências até lá, manter tudo como estava, ao menos aos olhos do outro – e assim não seriam acusados de parceria em um crime desses. No máximo, na pior das hipóteses, ele seria conhecido como um consolador de viúvas e ela uma pobre coitada que acabou caindo na dele após o trágico acidente em sua vida. Na melhor das hipóteses, pretendia parecer o amigo fiel que deu apoio à pobrezinha e que acabaram ficando juntos, essa era a melhor perspectiva para passar longe de ser culpado pelo homicídio do sujeito.

Era nisso que ele pensava enquanto caminhava para o banco apontado por ela, Ùna de repente voltando à posição de guardiã. Sua presença a alguns passos dele era uma constante que queimava em seu estômago, uma prova à sua força de vontade. Mas se existia algo no qual eles se igualavam era na teimosia, na obtusidade e na forma como eram capazes de mentir e vestir suas máscaras tão bem construídas. Dessa maneira, ninguém que passasse por eles naquele exato segundo iria jamais descobrir que tudo o que o marquês de Haywood, perfeitamente composto e bem vestido, queria era esmagá-la de volta contra ele e dar bom uso para o tempo de aula que desperdiçavam (e mãos, e lábios e mandar às favas a tal compostura.)

Mas somente se sentou no banco, ajeitando melhor o uniforme, ombro contra ombro, as pernas dela às vezes esbarrando contra as suas, tão tentador e sofrível como provavelmente Perséfone tinha se sentindo com uma das frutas do Tártaros e Davi com a pobre coitada daquela mulher. (Mesmo assim, apertou a mão dela quando a Fairbairn puxou a sua para o colo, dedos entrelaçados compartilhando calor.)


- Humm, isso dificulta realmente as coisas, torna impossível deduzir quem é o sujeito e convencê-lo amigavelmente a retirar o pedido. Isso faria seu tio matá-lo com uma foice, mas quem se importa? – Alistair estalou a língua enquanto seu cérebro tentava funcionar mesmo naquelas condições – Ainda que não seja de todo impossível, não. Pra início de conversa, meus pais devem saber – nunca vão me contar, mas devem saber. Se for assim, talvez Cormac também conheça, você sabe, eles não esconderiam nada do meu irmão, diferente do que fizeram comigo. Cormac pode ser uma boa aposta, ele contaria se nós insistíssemos. Hum. Posso enviar uma carta a ele.

Se alguém soubesse, esse seria Cormac. Pra início de conversa, seu pai o levava mais a sério do que o mais novo, colocava-o a par de todas as coisas que concerniam a família e não havia jeito de que o casamento da mais velha das Fairbairn, uma nova aliança, não entrasse nessa conta. Não gostava disso, mas tinha que assumir a verdade.

Apertou os dedos dela entre os seus.


- E chega, vamos esquecer quem teve culpa de que e que você não contou e eu não perguntei e tudo isso, não vai nos ajudar nada agora. Você só tem que me colocar a par de tudo a partir de agora, tudo.. E u aposto que se sua irmã soubesse, seria a primeira a aprovar nosso plano, certeza.- ele riu pelo nariz – mas não quero Sorcha participando de um.... uma resolução de problemas tão cedo assim, não. Estamos de acordo nisso.

Não pela primeira vez, Piers se virou para observar os arredores, só para ter certeza de que não havia realmente nenhuma testemunha ali. Ao não perceber ninguém, respirando fundo e dando a si mesmo o direito de ser indulgente, escorregou a mão livre para a nuca da sua guardiã e conspiradora, puxando-a para mais perto. Arriscou pousar os lábios sobre a fronte dela, fechando os olhos antes que pensasse em qualquer outra coisa e se perdesse, afastando-se devagar depois.

Estaria morto e enterrado antes que alguém tocasse em um fio de cabelo dela.


- Escuro. O seu enxoval, melhor se for escuro, preto até. Sua avó mandou uma carta perguntando, não foi isso? Não que a gente pretenda esparramar sangue, mas se não der jeito, é melhor que não se perceba.

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Mensagem por Ùna Fairbairn Qui Out 04, 2012 1:06 am


Não era o tipo de coisa que diria em voz alta tão cedo – afinal, não cabia a ela dar ainda mais munição para que ele se gabasse –, mas tinha de admitir, ao menos para si mesma, que gostava de verdade de ver as engrenagens da mente de Piers funcionando como em um relógio preciso. Se entre os dois era ela quem mantinha o sangue frio e o autocontrole, ele era quem dominava a habilidade de fiar uma linha de raciocínio clara a partir do nada. Uns poucos minutos antes e lá estava ele com as orelhas rubras, agarrando ela pelos ombros, gritando, em um destempero que lhe era incomum. E agora já alinhava as parcas informações de que dispunham, tentava encontrar pontas soltas, alternativas, possíveis aliados. Em todos aqueles anos carregando o problema sozinha, ela jamais havia pensado em recorrer a Cormac, por exemplo – até porque, já não eram nem de longe tão próximos quanto nos tempos de criança. Mas agora que o filho mais novo dos Ainsworth parecia decidido a tomar as rédeas do caso, novas opções surgiam, promissoras.

Olhando para o marquês sentado a seu lado – um homem feito, de mente afiada e pleno controle das palavras, forte e carismático, uma figura absolutamente solar –, Ùna não conseguia entender por que ainda insistiam que ela se mantivesse ao lado dele como uma constante.

(Mas talvez fosse melhor assim. Ao mesmo tempo em que detestava se ver sujeita aos Ainsworth, como se pertencesse a eles de alguma forma, a jovem Fairbairn não conseguia mais conceber uma vida sem estar o tempo todo ao lado de Piers. Não em Hogwarts, pelo menos.)

Demorou até perceber que ainda sorria, fosse ao fitar os dedos entrelaçados em seu colo, fosse ao encarar o rapaz que dividia o banco com ela; quando ele deixou o ar escapar pelo nariz num esboço de riso, ela espelhou a ação. Talvez por estar muito acostumada a ser a sombra dele, talvez por simplesmente não saber o que fazer. Ainda atordoada pela situação, sequer entendeu quando ele olhou ao redor, apenas seguiu o olhar dele, buscando um sinal de qualquer coisa.

Não esperava que ele a puxasse pela nuca, plantando um beijo em sua testa. Não esperava por aquele gesto, e provavelmente conjurou os espíritos de gerações e gerações dos Fairbairn, até a própria Dama Cinzenta, para não se desfazer na mesma hora, desmanchando contra o peito dele. Compostura. Precisava dela mais do que nunca – porque se fora difícil resistir à proximidade de Piers durante aquela dança em pleno verão, na fuga apressada para uma sala esquecida no castelo em Tintagel, era praticamente impossível não ceder agora que estavam mais perto do que nunca, que conspiravam juntos, que planejavam tirar do caminho tudo que os impedisse de permanecerem juntos.

Teve a vaga impressão de que ele mencionara o enxoval outra vez, mas não ouviu. Não ouvira uma palavra sequer, aliás, como se subitamente elas não passassem do ruído da voz dele escapando sem nexo por entre dentes muito brancos e meio tortos, lábios corados – os mesmos lábios cujo toque ainda queimava contra sua pele. Até que ele se calou, aparentemente esperando uma resposta dela, que nunca veio.

Não da forma devida, pelo menos.

Sem pensar – uma única vez na vida, a memória de sua família tinha de lhe dar algum crédito por isso –, Ùna apenas avançou. Estendeu a mão para tocar o rosto dele, os dedos finos de unhas bem feitas deslizando, algo trêmulos, até alcançar a raiz dos cabelos loiros; e então colou os lábios nos dele, olhos apenas semicerrados, o coração parecendo prestes a rebentar suas costelas depois de anos de expectativas, frustrações e espera. Quase dois meses completos separando aquele momento da última festa em Tintagel – a fatídica dança.

Agora sim, ele podia dizer que ela o havia beijado. Estavam quites.


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Mensagem por Piers Ainsworth Qui Out 04, 2012 3:23 pm


Tentava, realmente tentava, desviar os pensamentos de todo o calor bem ao seu lado para dar melhor uso às suas engrenagens, enquanto acariciava distraído a pequena mão entre a sua com um polegar quando a outra pousou em seu rosto e fez com que voltasse os olhos azuis de novo para ela. Uma mão pequena, se comparada a todas as dimensões dele, não tinha muito de macio porque ele sabia que ela treinava demais e com afinco, era testemunha ocular de todas as habilidades dela, mas era o melhor toque que jamais receberia.

Chegou até mesmo a sorrir, seu orgulho se reconstruindo e colando sozinhos os cacos, tomando nova forma e voltando a pousar em seus ombros como uma pesada capa protetora. Sorriu de canto e aproveitou aqueles dois ou três segundos para observá-la e se parabenizar porque, realmente, até seu coração era dotado de muito bom senso. Não existia garota melhor do que Ùna, tão autossuficiente e forte, alguém em quem ele podia confiar e se apoiar. Ela tinha olhos tão claros, verde com um anel em azul, que... que se aproximavam dele? Engoliu a surpresa e o ar quando aos olhos se juntaram lábios e uma respiração alterada, a mão trêmula que tinha escorregado para seu cabelo.

E era assim que Ùna Fairbairn acabou beijando o marquês de Haywood (se tivesse presença de espírito, talvez tivesse sorrido contra os lábios dela, mas acabava de morrer um pouco naquele instante).

Não pensou em nada, sentiu toda e qualquer coisa que não fosse ela se esvaziar de sua mente, só havia o calor dela, dedos emaranhados contra seus cabelo, podia enxergar a cor das íris dela através de olhos tão semicerrados como os seus - e se tinha visto algo mais bonito uma vez, era ela mesma na outra ocasião em que as posições tinham se invertido. Não era nada de casto, não podia confundir com nada de fraterno; era uma boca macia encaixando-se contra a sua, toda uma garota que se apertava contra ele, era ela que finalmente abandonava qualquer tipo de reserva e aplicava o golpe final no jovem Ainsworth.

Era diferente daquela dança que levou ao outro beijo que trocaram, quando ele a tinha levado pela mão, quando ela tinha sido influenciada pelo espírito de valsas e gigas e se deixado levar por ele. Não, dessa vez era ela que o segurava, era ela quem tinha iniciado tudo, era ela quem inundava seus sentidos e fazia com que perdesse o senso e a vigilância, capaz só de sentir e desejar.

Como é que Alistair iria sobreviver sem ela por muito mais tempo? Como é que podia permitir que mais alguém provasse disso, gosto de romã? Não. Lençóis escuros, era a resposta.

Quando ela finalmente se afastou (verde, tão verde), algo ainda trêmula, respiração errática em seu rosto, arrancou um audível som de frustração dele, fez com que separasse as mãos que ainda estavam unidas e segurasse o rosto dela com as duas mãos. Porque não, se ele ia ter que passar todo um ano sem poder reclamar o que era seu por direito, precisava de mais do que aquilo.

Dessa vez, Piers fechou os olhos, trancou um sentido em função de senti-la quase dentro dele, aproximou os poucos milímetros que tinham se separado e colou de novo a boca contra a dela. Dessa vez, porém, testando sua sorte e incapaz de qualquer outra coisa, pediu passagem com a língua, encontrou todo o gosto de romã e morreu o que sobrava ali, absorvendo tudo e guardando na memória, entregando de graça todas as poucas partes dele sobre as quais ainda ela não tinha domínio.

Ia ter que ser o suficiente.

Foi quase com pesar que se afastou pela última vez, encostando a testa contra a dela, sua própria respiração completamente descompassada, mordendo o lábio inferior porque só assim podia refrear a si mesmo.


- Virgem santa, quanto tempo dura um ano? - seu riso, pequeno e desesperado, soou baixo demais até para ele.

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Mensagem por Ùna Fairbairn Sex Out 05, 2012 12:22 am


Ainda que a competência dos Fairbairn fosse difícil de contestar – eram, afinal, uma família que se formara sobre o preceito de honrar com seus votos e promessas, fosse qual fosse o preço –, não foi preciso mais que alguns minutos para que Ùna concluísse que aquilo a que se propunha agora beirava o impossível.

Porque se a convivência com Piers havia sido no mínimo complicada desde o quarto ano, e se tornado uma verdadeira valsa em um campo minado nos últimos meses, estava mais do que claro que, com a situação entre eles finalmente resolvida, não teriam a menor condição de sobreviver a um ano letivo inteiro mantendo distância e fingindo que nada havia acontecido. Não se ainda pretendessem resguardar ao menos um fiapo de sanidade mental para quando fossem assassinar o noivo dela e, posteriormente, constituir família.

Não tinha como evitar aquele (novo) primeiro beijo, convenhamos; devia isso a si mesma e, acima de tudo, a ele. Mas não contava que ele voltasse a buscá-la tão logo se separaram, malgrado a necessidade de manter segredo. Não esperava ter que lidar, a céu aberto e em plena luz do dia, com as mãos dele prendendo seu rosto, uma boca inteira reivindicando posse, invadindo-a e levando sua alma embora.

– Virgem santa, quanto tempo dura um ano? – Ele perguntou, a voz grave e perdida em um riso fraco que mal abandonara a garganta, e ela tentou responder, de verdade. Formulou a resposta, tinha plena certeza disso, mas no que tentou verbalizá-la tudo que conseguiu foi mexer o rosto, fronte ainda encostada na de Piers, lábios buscando os dele como uma mariposa estúpida se lançando contra uma fogueira.

Em uma demonstração heroica de força de vontade, porém, a jovem Fairbairn desviou-se da trajetória, um ruído que mais lembrava um ganido agonizante lhe escapando no processo. Foi imediatamente bater com a testa nos joelhos, dobrando-se sobre si mesma, mãos entrelaçadas na própria nuca como se para mantê-la ali, presa. E grunhiu – um som de frustração e derrota, sufocado contra o tecido das calças.

Quando finalmente se ergueu, a única coisa que denunciava o que havia acabado de passar eram as bochechas e o nariz ainda vermelhos devido à posição em que se encontrava antes. Ajustou a coluna, ajeitou as mechas mais curtas do cabelo que haviam se soltado, prendendo o grampo novamente. E então pousou as mãos no colo, uma sobre a outra, voltando-se para Piers. Mantinha, a bem da verdade, uma expressão impressionantemente composta, ainda que, para um bom observador, talvez tivesse qualquer coisa de maníaca.

– Por Arianrhod, não! Um ano inteiro? Não. Não vai funcionar. – O ar lhe escapou em algo como um riso frouxo, meio transtornado. – Eu posso tentar apressar os preparativos. Enquanto você sonda Cormac e vê se ele sabe de algo, eu escrevo para minha mãe e... – Respirou fundo e soltou um suspiro nervoso. – Não sei. Pergunto a respeito do andamento. Comento que acho que um casamento branco seria lindo, e que se dane o fato de que nunca demonstrei interesse por isso antes. Qualquer coisa que possa adiantar a resolução disso. Não vamos precisar de mais que algumas horas para sumir com o porco, vamos? Diabos, em dez minutos eu consigo drogar e matar o maldito, você só vai precisar carregar para fora! Que seja logo nas próximas férias então. Já celebro o solstício de inverno liberta. É melhor, não é?

Afinal, se pretendia manter-se bem com a família depois de tudo – e Ùna era absolutamente incapaz de dar as costas para os Fairbairn, tal como qualquer outro membro do clã –, uma passagem por Gretna Green assim que pusessem os pés fora de Hogwarts estava fora de cogitação. Mas manter segredo até o próximo verão era simplesmente inconcebível.


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Mensagem por Piers Ainsworth Sáb Out 06, 2012 1:57 am


A frustração era sua companheira constante desde quando tinha uns seis anos de idade e fizera para ela uma coroa de alecrim mas ela tinha preferido ficar ao lado de Cormac na brincadeira, contra ele - ainda tinha usado a coroa, mas era a líder dos renegados junto com o irmão dele. Tinha se tornado uma daquelas companheiras rezadeiras, seus lamúrios se batendo contra seus ouvidos, durante os últimos dois anos e era a primeira que o saudava quando acordava e a última que o cumprimentava ao dormir há dois meses. Frustração, conhecia-a tão bem como conhecia a si mesmo, e reconhecia em Ùna e seus movimentos interrompidos a mesma frustração que já era sua amiga.

Chegou a sorrir, um movimento de canto que expunha metade de seus dentes, sabendo que ela finalmente provava do sentimento que corroía o âmago pelo qual ele vinha passando há tempos e que só piorava a cada dia.

De certa maneira, se sentiu confiante, seu ego, que já era maior que mais da metade do ego das pessoas, inflamando ainda mais, seu orgulho completamente restituído. Mas, ao mesmo tempo, saber que tinha o poder de fazê-la se frustrar tanto a ponto de bater com a fronte contra os joelhos e ficar respirando ali, um som de agonia escapando do monte de gente que ela tinha se tornado, só piorava sua situação. Porque sabia agora o que conseguia fazer, mas não podia, não até que o ano acabasse e o noivo dela estivesse estripado chamando os peixes com seu sangue, servindo de isca para arenques.

Era muito pior conviver com esse conhecimento.

Chegou a estender a mão com o intento de colocá-la sobre o ombro da garota, mas abortou o movimento porque não seria bom para nenhum deles se ele a tocasse. Não sob a luz do dia, não sob os olhos de todos, não sob aquelas condições, não até que resolvessem tudo. Fechou a mão em um punho e a pousou pesada do seu lado do banco, respirando devagar e esperando que ela se levantasse por conta.

E ela era surpreendente, sempre tinha achado isso mas podia vê-la agora e ser testemunha do quanto. Tinha se levantado toda composta, sua máscara de fleuma reposta mesmo que o tom de seu discurso desdissesse tudo isso. Ela era tão diferente das outras pessoas, não fazia escândalos nem exageros, prática e firme e, mais uma vez, ele teve de parabenizar a si mesmo pelo seu excelente bom gosto, sempre tinha gostado de coisas boas, sempre.


"Um ano, Haywood, um ano..." - se lamentou por dentro, sem conseguir segurar um pequeno gemido de sofrimento antecipado.

- Pelos pregos de Cristo! Sim! Nossa oferenda aos deuses, algum deles deve gostar de sangue, sempre tem um que gosta. Só não seja muito efusiva na carta, não ia passar credibilidade... Talvez você possa dizer que não aguenta mais vigiar as botas do marquês, podem acreditar nisso. - ele, então, atreveu-se ao único toque que parecia seguro, puxou a mão dela entre a sua, dessa vez em seu colo - Eu só espero que ele não seja gordo, eu não sou tão forte assim e é melhor pular a parte de feitiços, uh? Mas se você me arranjar um machado, dá para fazer algumas viagens, acho. Deve ter alguma ferramente pra isso no serviço funerário da sua família, mas melhor não arriscar deixar nenhuma prova. Aliás... só no caso de que eles não adiantem para essas férias, eu acho que a gente devia montar um plano extra. Seis meses, Ùna, seis meses é tudo o que eu aguento nessa agonia. Se ele não estiver morto, e nem precisa ser enterrado, em seis meses, não dá, vamos ter que buscar outra rota.


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Mensagem por Ùna Fairbairn Sáb Out 06, 2012 11:34 pm


A boa nova trazida por aquela segunda-feira era que Ùna não estava mais sozinha em seu sofrimento – aliás, antes mesmo disso, era preciso esclarecer que tal sofrimento, ao menos como havia se manifestado ao longo dos últimos anos, havia se tornado infundado. Antes, a ideia do casamento arranjado lhe causava asco não pelo compromisso em si, mas pelo fato de que era irremediavelmente apaixonada por seu protegido desde antes de se capaz de compreender as implicações disso. E se até então tinha carregado o fardo sozinha, acreditando que Piers simplesmente acataria qualquer decisão tomada pelos Ainsworth, agora ela podia se comprazer do fato de tê-lo já como companheiro; afinal de contas, se o que tramavam juntos não fosse sinal de que estavam dispostos a dividir toda a vida que tinham pela frente, ela não sabia o que mais poderia ser.

Havia, claro, a face malfazeja da moeda, todo um novo sofrimento, menos da alma e mais da carne – ainda que também doesse saber que ele era dela sem ter com quem dividir a informação, sem poder marcá-lo como se fosse gado, tirando-o do centro das atenções. Era incômodo não poder dizer que não, não era a babá ou a vigia, a segurança ou a sombra; era, sim a futura mulher do Marquês de Haywood. Mas teria de se contentar com o segredo, ao menos por ora. O foco de ambos deveria ser voltado aos planos.

(Mas era bem verdade que se divertia com o desespero que preenchia a voz dele ao falar dos seis meses que os separavam de uma solução, os malfadados dias de abnegação que teriam de enfrentar, mesmo que esse desespero fosse um reflexo do que ela mesma sentia.)

– Seis meses. – Soltou com um suspiro que carregava em si qualquer coisa de riso, o polegar deslizando contra a pele da mão que segurava a dela. – Parece muito, mas já parou para pensar em tudo que temos que fazer até lá? Além do ato em si, digo. Em primeiro lugar, não podemos desconsiderar a possibilidade dos seus pais estarem, nesse momento, arranjando uma noiva para você. Precisamos adiantar essas cartas. Pretendo escrever hoje de noite e enviar amanhã mesmo, no primeiro horário. Talvez fosse bom que você fizesse o mesmo com a carta para Cormac... E não podemos esquecer quer, perguntando a ele, abrimos o jogo a respeito de você saber do meu noivado. Porque, certo, estamos contando Cormac como um provável aliado nesse mérito, mas nada o impede de dizer aos seus pais, por exemplo, que você está tentando se informar quanto ao meu compromisso. Seria bom ter uma boa resposta alinhavada caso eles venham a questionar o seu interesse, não?

Respirou fundo, farta do som da própria voz – e também daquele lago e do castelo atrás dele, cansada de toda a maldita Escócia, e que se danasse que seus ancestrais tinham vindo de lá, uma tradição que ela ainda carregava no nome. Por um instante, não quis nada além de estar de volta a Tintagel com ele, sem tantos olhos que pudessem importuná-los. Lá não haveria quem os impedisse de sumir por um dia inteiro para cavalgar ou caminhar pela costa. Mas não: eles tinham que colocar tudo em pratos limpos justamente no maldito primeiro dia do maldito último ano de aulas.

Era castigo que ganhavam por serem dois imbecis. Só podia ser.

(Ainda que, se pretendesse enfrentar uma noite de núpcias sem controvérsias, era até mais seguro assim.)

– A propósito, falando em aliados... – Deu ao marquês um olhar de esguelha, o cenho algo franzido. – Temos que ver o que fazer de Del Aguirre, não é? Porque certamente ele vai querer saber o resultado da... notícia que deu a você. – Talvez não quisesse mais a cabeça do moreno em uma bandeja de prata, mas ele ainda poderia ser uma incógnita complicada naquela equação. – E não podemos esquecer de Bran. Não sei até que ponto vamos conseguir esconder essa história dele, se é que vamos... Ou se não seria melhor arregimentarmos logo o único aliado certo que temos.


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Mensagem por Piers Ainsworth Ter Out 09, 2012 1:52 am


Noivado... dele. Era o pior pesadelo que podia pensar, um obstáculo maior do que se o noivo de Ùna fosse Harry (o neto de Lizzie, não o Potter). Afundou o rosto na mão que estava livre, um suspiro agoniado escapando de seus pulmões enquanto pensava nisso. É claro que seus pais estavam pensando em alguma coisa, ele já era maior de idade no mundo bruxo, era até um bom partido - a modéstia que se danasse. A imediata figura de Yasmin Sadik se formou atrás de suas pálpebras, mas ele a varreu para longe com outro suspiro. Não, isso não ia acontecer. Tinha planos para isso também, cada um para um nível de desespero diferente, o nível máximo estabelecia que, bem, ele não era herdeiro dos Ainsworth, ele já tinha herdado do avô, dos Haywood, era dono de suas próprias posses e só devia obedecer aos pais por consideração. Não pretendia chegar a tanto mas, caso fosse necessário, era uma saída e não podia descartá-la.

- Seis meses é muito tempo. - ele respondeu, espiando com o rosto ainda afundando em uma mão - Se seu casamento fosse semana que vem, a gente já pensava em algo, procurava por uma das tumbas mais antigas, e pronto. Não ia dar tempo de mais nada, inclusive dos meus pais arrumarem uma pretendente. Mas, que eu saiba, ainda não há nada fechado. Se existir algo, é oferta pela minha cabeça - que, convenhamos, deve estar chovendo sobre meus pais, tenho uma cabeça bonita, e todo o resto, huh? - Alistair riu, voltando a ficar reto e engolindo antes de continuar, o polegar da outra seguindo o movimento de Ùna ao fazer pequenos círculos na mão dela - E eu acho que se eu parecer afoito para me livrar da sua vigilância, Cormac acredite sem muitas suspeitas. E se não acreditar também, esse é outro caminho... sua família não iria gostar e nem a minha, mas se aparecer rumores por aí de que eu te comprometi... eles aparecem aqui com a foice do seu tio no meu pescoço e a espada do meu pai nas minhas costas para me obrigar a te fazer uma mulher honrada. Não quero chegar a isso... mas, em todo caso, melhor anotar.

Não queria, de verdade. Não era, por princípio, uma pessoa dada a conflitos desnecessários e com certeza amava demais sua mãe para fazer uma coisa dessas, respeitava os Fairbairn, respeitava Ùna, mas não pensaria duas vezes se essa fosse a única opção. Por sorte, podia poupar um brusco rompimento com a família apenas cometendo um homicídio, achava que estava no lucro. Porque embora seu respeito e admiração pela própria família e pela dela também fosse gigantesco, embora o avô Fairbairn tivesse quase sido um pai para ele e sua própria mãe se orgulhava de todo o tato social e diplomático do filho mais novo, faria de tudo pela garota cuja mão segurava entre a sua e agora entrelaçava seus dedos, sentindo alguns calos pelos quais tinha profundo carinho. Preferia o homicídio.

Mas quando ela falou em aliados, sua mente se desanuviou um pouco e ele até mesmo riu, jogando a cabeça para trás. Bran iria adorar isso, tinha certeza. Achava que ele tinha sido meio apaixonado por Ùna quando o próprio Piers ainda usava cabelo de tigela, mas não via mais isso agora. E apostava que Bran ajudaria com disposição e afinco se descobrissem, ainda por cima, que tinha sangue nobre nas veias do infeliz - e a possibilidade disso era grande. Já Ángel Del Aguirre tinha seus próprios problemas, mas era um outro aliado que justamente entendia pelo que eles estavam passando (e agora Piers lhe devia um imenso favor, não podia se esquecer).

Realmente, iam ter alguém para assoviar debaixo da janela quando alguém aparecesse.


- St. Ledger nos enforcaria se não contássemos a ele e eu também não quero isso, ele é nosso amigo - e pode carregar metade de um corpo junto com a gente. Amizade é pra essas coisas, aposto que ele ia adorar. Já sobre o Del Aguirre... ele pode ser um bom aliado e já estamos dispostos a ajudá-lo com o mesmo problema, de todo jeito e... bem, ele certamente vai querer saber que você não vai matá-lo na próxima vez que o vir... você não vai, não é?


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Mensagem por Ùna Fairbairn Qua Out 10, 2012 2:31 am


A simples dúvida do marquês quanto às intenções de Ùna para com a vida de Del Aguirre foi suficiente para que um riso escapasse da garota, alto e breve. Riu com gosto da ligeira nota de descrença e preocupação que embalava a pergunta – e também porque havia tempo demais que não tinha liberdade ou sequer disposição para se permitir uma risada, como vinha fazendo nas últimas 24 horas.

– O que, o bom marquês já está preocupado assim com a saúde de seus convivas? E ele o comprou com o quê? Uma dose de bebida barata e meia dúzia de informações? – Provocou em um falsete, uma sobrancelha muito escura erguida para acentuar a intenção. Mas entregou-se ao menear a cabeça, lançando ao loiro ao seu lado um olhar de esguelha, enquanto um sorriso insistia em lhe torcer o canto dos lábios. – Pode ficar tranquilo. Eu devia arrancar a cabeça daquele filho de uma loba que não esperou nem que a nossa conversa esfriasse antes de dar com a língua nos dentes, mas não. Pretendo, inclusive, agradecer a ele. Agora, se ele enfartar no processo, não é culpa minha ele ter um coração fraco. – E deu de ombros, como se não se importasse com o destino do hispânico; àquela altura, apenas uma meia-verdade.

Silenciou, então, distraída em girar o anel que Piers usava no polegar direito, fitando vagamente a joia que já lhe era tão familiar. Não havia nem tanto tempo assim, talvez um par de anos ou mesmo três, que a herança recebida do avô materno sequer servia no dedo do loiro; agora já era difícil movê-la.

– Eu tenho esse sonho recorrente com coroas de alecrim... Lembra? Daquelas que você costumava fazer? – Falou por falar, a voz pouco mais que um sopro, apenas porque a lembrança havia acabado de lhe ocorrer. Ou talvez porque agora se sentisse finalmente confortável o bastante para confessar algo que não passava de uma curiosidade boba, que não condizia com a natureza do relacionamento que vinham mantendo até o momento. Antes que ele tivesse chance de tecer qualquer comentário a respeito, porém, ela retomou o assunto que importava; não tinham muito mais tempo até que o horário de aulas estivesse encerrado e, daí em diante, não havia garantia de quando teriam paz para tramar novamente.

– A propósito, concordo que não seria bom tornarmos isso uma ofensa de honra. Afinal de contas, se for para acabarmos indispostos com as nossas famílias, seria mais fácil fugir de uma vez. Gretna Green exigiria só um pequeno desvio no caminho de volta para casa... – Um sorriso miúdo voltou a decorar seu rosto, em parte devido ao gracejo que fazia, mas também por conta da menção, ainda que velada, ao que seria o casamento deles. Ainda tinha de se acostumar à ideia de que sim, seus planos solitários de homicídio ou uma vida de resignação agora davam lugar ao que seria o planejamento de como eles poderiam garantir um futuro juntos; a pedra no caminho era um detalhe a ser removido, e só.

Tinha, aliás, de agradecer não apenas a Del Aguirre, mas ao próprio Piers. Ao longo dos últimos anos, quando o conflito se resumira a livrar-se do noivo ou aceitá-lo para se ver livre das obrigações para com os Ainsworth, não tinha se preocupado em maquinar mais, em elaborar mais suas opções; encasquetara com uma meta e a estabelecera como definitiva. Agora que discutiam o assunto, porém, via quantos detalhes acabariam ignorados.

(Em tempo: por mais que realmente amasse o jovem marquês desde sempre e pudesse dizer ter se apaixonado tão logo ele deixou de parecer mais delicado que ela, Ùna não podia negar que casar-se com ele tornava-se um ato ainda mais especial quando pensava na família de seu futuro marido. Se os Ainsworth pretendiam mostrar à jovem Fairbairn qual era seu lugar ao colocá-la a serviço de seu caçula, agora era a vez dela mostrar que seu lugar de direito era o de esposa dele.)

– E me ocorreu agora... O casamento certamente será em Tintagel, nenhum Fairbairn abandona a terra enquanto ainda carrega o nome da família. Certo? – Não tinha qualquer dúvida disso, mas seus olhos buscaram o rosto dele, ávidos por aprovação. – O que significa que o meu noivo deve se hospedar em nossa casa, ou quem sabe até no castelo. Não importa. O ponto é que isso nos daria alguns dias. Posso arriscar dizer aos meus pais que, se não tenho opção além de me casar, gostaria de pelo menos tentar adiantar para o inverno, porque gostaria de convidar alguns poucos amigos daqui que já têm planos para depois da formatura. Com uma eventual antecipação, seria ainda mais fácil acreditar que o noivo desistiu de última hora e fugiu, não? Só teríamos que dar cabo dele antes da cerimônia. E nem seria problema justificar a presença de Bran e... – Lançou um olhar descrente para o loiro a seu lado, algo de divertido em sua expressão. – Você pretende mesmo envolver Del Aguirre nisso até o pescoço e colocá-lo para dar o sinal?


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Mensagem por Piers Ainsworth Qui Out 11, 2012 1:20 pm


Havia alguma coisa no som da risada dela que fazia algo se enroscar no estômago dele, quente e nauseante, abria automaticamente os cantos de sua boca e o obrigava a sorrir de volta como um bobo. Provavelmente era porque quase nunca ouvia aquele som e o tanto de vezes que ele atingiu seus tímpanos nas últimas vinte e quatro horas era um novo record, era como aquela vez em que se empanturrou de pães de mel até que seu estômago protestasse. Mesmo assim, igual naquela ocasião, não podia evitar beber do riso dela, do cheiro dela, de tudo o que havia ao seu lado.

E a forma como os dedos dela, calosos e tão diferentes das outras garotas que não faziam nada de suas vidas, giravam o anel que ele levava no polegar não ajudava muito a sensação líquida no estômago, bem ao contrário, mexia em algo bem lá no seu âmago e ele não tinha escolha a não ser ficar ali e sentir. Tinha aquele anel desde os doze anos, quando o avô morrera e deixara para ele o título de marquês e algumas posses, nada tão grandioso como o que seria de Cormac mas suficiente para fazê-lo distinto entre os outros filhos mais novos de outras famílias, e aquele anel fazia parte da herança. Ao que constava, era parte dos próprios Ainsworths que tinha se perdido para os Haywood com o casamento há algumas gerações e retornara com seu avô materno e sua mãe e agora pertencia a ele. Queria que fosse dela, porque era algo ao qual já tinha se acostumado tanto a usar que, sem a tira de metal, se sentia meio nu - mas se sentia nu e desajeitado sem ela ao seu lado também, a sensação era a mesma, ela merecia o anel. Ainda assim, não podia dá-lo agora, seria um sinal claro demais que havia algo entre eles, não podia colocar tudo a perder.

Então apenas riu pelo nariz sobre tudo o que ela disse, deixou que brincasse com o anel e continuou a conversa, um pouco pesaroso por finalmente voltar a se dar conta da corrente do tempo e notar como ele avançava iníquo e o horário da aula já chegava ao seu fim.


- Você sempre disse que eu sou sociável demais, não é mesmo? Não é que de repente Del Aguirre tenha virado meu melhor amigo, aquela tequila não valia tanto assim. Mas devo a ele um favor e tem minha simpatia, não fosse ele, não estaríamos assim agora. - sorriu afetuoso, algo se desmanchando em seus olhos azuis quando ele ergueu de leve as mãos deles enroscadas em seu colo - Além disso, ele é bem diferente daquilo que aparenta aos outros, você deve ter percebido. Potencial, Ángel Del Aguirre tem potencial, uma pena que, pelo que ele diz, o pai não pareça perceber isso.

Mas ele não pode dizer mais nada, porque com o olhar de uma garota perdida em um sonho bom, algo que fazia anos que ele não via, ela se pôs a falar das coroas de alecrim. Não deixou que ele falasse mais nada, interrompendo a si mesma e sua parte sonhadora, sua parte de menina romântica, para voltar a ser a pessoa prática de sempre. Ele amava todos os lados dela, todos eles, mas tinha um apreço todo especial por quando todas as máscaras escorregavam de seu rosto e só ficava ela. Coroas de alecrim... ainda sabia fazê-las, já não era mais criança e ela já não era a rainha de Cormac contra ele, mas ainda se lembrava de como fazer uma. Sorriu sozinho.

- Mas fugindo pra Gretna Green, sua família vai culpar você também. - arrumou uma pequena mecha solta do coque perfeito atrás da orelha dela - Só um de nós precisa ser culpado, melhor que seja eu. Mas isso é discussão para se tudo o mais falhar... eu gosto da sua família...

No momento, ele achava que todos os Fairbairn eram uns loucos controladores, mas no fundo seu cérebro apontava que a verdade era só que eram essencialmente inteligentes, práticos e sagazes. Mal podia imaginar o que seria da expressão em seus rostos quando eles finalmente se casassem, mal podia. Esperava, sinceramente, não ser considerado deficiente para o posto. Porque ia roubar a Viúva-Negra bem debaixo do nariz de todo mundo, esperava ao menos que o considerassem esperto pelo tesouro que pretendia amealhar para si.

- Eu faço questão de lembrar ao meu pai que nós devemos muito aos Fairbairns e que nada mais justo que oferecer acomodações e até o salão para a cerimônia. Essa é realmente uma boa ideia. Sobre o Del Aguirre... não sei se é muito justo para ele pedir que contribua para um homicídio, mas não me importa isso. Ele pode ajudar, e isso é o suficiente para decidir que devemos ao menos tentar arregimentá-lo às nossas fileiras. - ele ergueu a mão dela, ainda presa na sua, na altura do seu rosto e beijou a palma macia, porque era a única coisa que podia fazer para não abraçá-la de novo - Tudo vai acabar bem, você sabe que eu sempre consigo o que eu quero, sempre.


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Mensagem por Ùna Fairbairn Sex Out 12, 2012 12:40 am


Ciente de que o tempo que lhes restava era quase nenhum – e também levando em conta que nenhuma pequena transgressão que cometesse seria mais grave aos olhos de algum eventual observador que aquele beijo na palma de sua mão –, Ùna apenas estendeu os dedos para tocar o rosto de Piers, seguindo a linha firme do maxilar até que se acomodassem suavemente sobre a face dele, o polegar por um instante deslizando por sobre os lábios meio separados, mantidos assim por aqueles dentes muito grandes e um tanto tortos. Permitiu-se um momento a mais de intimidade, estudando as feições dele com olhos muito atentos e o toque. Não que ainda houvesse qualquer detalhe que não conhecesse de cor e salteado, mas o que queria era gravar na memória a imagem do companheiro, namorado talvez, decerto futuro marido.

– Sempre consegue o que quer, pois sim... – Esforçou-se por imprimir alguma indignação na voz, mas ambos sabiam que, por mais egocêntrico que soasse, o que ele dizia não era nada além da verdade. Mas revirou os olhos de toda forma, como cabia a ela fazer toda vez que o marquês enchia o peito para se gabar de qualquer coisa, arremessando para longe qualquer vestígio de modéstia apenas com um erguer de sobrancelhas e um sorriso torto – justamente o que ela amava odiar. O ar lhe escapou pelo nariz em um arremedo de riso quando meneou a cabeça, desistindo do ar ofendido, lançando a ele um olhar de canto. Acabou emendando em um suspiro, porém, o comentário saindo mais grave do que o pretendido. – É bom tratar de não falhar agora.

Como que para aliviar o peso algo agourento de suas próprias palavras, a garota soprou uma mecha loira que caía em desalinho sobre a fronte do rapaz ao lado, levando a mão do rosto ao cabelo dele, para ajeitá-lo. Só então voltou a buscar a mão dele, entrelaçando os dedos como se não quisesse mais separá-las.

– E quanto a Del Aguirre... – Começou com o olhar baixo, mas havia uma nota maldosa em sua fala que parecia escalar a garganta, primeiro torcendo os lábios apenas de leve, e então alcançando os olhos, que se ergueram para fitar o marquês, meio encobertos por cílios longos e escuros. – Bem, se ele for apenas o vigia, não precisa necessariamente saber que se trata de um assassinato. Precisa? – Numa tentativa de fazer a sugestão parecer ainda mais trivial, a primogênita dos Fairbairn deu de ombros, erguendo as sobrancelhas espessas. – Verdade que ele pode me julgar capaz de matar meu noivo, até porque eu talvez tenha insinuado isso durante a conversa que tive com ele, mas... Ah, você não. Você e esses enormes olhos azuis e essa... Como foi que você disse? Ah. Cabeça bonita. Seria mais adequado dizer “cara de bom moço”, mas enfim, fiquemos com o seu termo. Você, com toda a sua eloquência e capacidade de manter a cabeça fria e planejar, ora, não se enfiaria em planos de homicídio de forma alguma. E muito menos faria isso com um amigo. Certamente seu mais novo camarada não se importaria de vigiar enquanto você toma providências a respeito do meu casamento... – Havia um suave rastro de humor negro permeando o que ela dizia, mas a seriedade voltou a dominar por um instante, ao decretar o fim do assunto. – Devíamos marcar de conversar com Bran primeiro, e então com Del Aguirre.

Ùna então se ergueu em um movimento fluido, quase ignorando a dor que sentia por simplesmente ter largado a mão de Piers, a quem lançou um olhar gentil, ainda que guardasse um fundo de melancolia.

– Acho que é bom voltarmos de uma vez... Melhor agora?

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